A maioria dos fatos históricos quase sempre são enxergados preferencialmente da visão dos vencedores, e no sistema que gira ao redor do mercado a história passa a ser vista a partir daqueles que venceram ou chegaram o topo desse mercado.
Mercado, que por ser o deus da atualidade, é aquele que dita tendências, felicidades e até diz quem são os salvos ou não, também exclui países de acordo com a sua vontade e inclui os “filhos amados”. Mercado este que muitos tentam agradar a tal ponto que é melhor se investir milhões para salva-lo do que investir milhões para acabar com a miséria de um terço da população mundial.
A história hoje conta que o maior país, em relação a status de potência, são os Estados Unidos por ter entre as suas fileiras os “Messias” de este deus que para muitos dita a forma de como a religião deve agir e como se deve acreditar em Deus e como agradá-lo.
Mercado que tem entre algumas das suas bem aventuranças, que de acordo com a sua bíblia são:
Bem aventurados aqueles que detêm os bens materiais por que deles é a terra.
Bem aventurados aqueles que tem as melhores moradias e gozam de segurança na terra que o senhor teu deus te deu.
Bem aventurados aqueles que esteticamente falando estão com tudo em cima, por que estes serão bem vistos e melhor empregados.
Bem aventurados sois quando consegues os produtos que a propaganda te oferece.
Bem aventurados sois quando vos assentais nas primeiras fileiras da igreja e lembra-te que foi o deus “mercado” que te concedeu estes benefícios, em muitos lugares pelo menos.
Bem aventurados sois quando consegues tirar o máximo da mais valia dos teus trabalhadores, pois haverá muitos que dirão que tu conseguistes alcançar pelas tuas forças, mas se esquecerão daqueles que oprimistes para montar o teu império.
Bem aventurado quando pelo status sois bem tratado em restaurantes, igrejas, salões, bancos e tantos outros locais na terra que o senhor teu deus te deu.
Bem aventurados sois quando consegues sair livre, mesmo após crimes cometidos, pelo fato de ser alguém na sociedade que vives.
E bem aventurado sois porque ajuntaste nos teus celeiros, para ter no inverno e mesmo quando viste teu irmão na miséria encolheste a mão porque o teu umbigo é mais importante, e agradece a “deus” que a pobreza não chegou nas tuas portas.
Mas do outro lado estão aqueles que são os “perdedores”, pois é assim que são vistos pelos seguidores do deus mercado, aqueles que não conseguirão fazer parte da partilha da mesa chamada globalização, mas foram “amaldiçoados” destinados a serem a lenha a ser queimada nesta maquina chamada capitalismo.
A história lançará no esquecimento as vitimas e dará mais valor as vidas que mais contribuem com o deus da atualidade, o que dizer se o 11 de setembro entrou para a história como data, mas os mortos da guerra do Afeganistão entrarão para o esquecimento, pois a morte deles foi “justificável”.
Ou então esquecer aqueles que a está hora morrem nas guerrilhas do Congo, que devem estar sendo enterrados e chorados, mas alegremo-nos porque estes não eram consumidores e não agradaram ao deus mercado. Ou então os desaparecidos nas ditaduras militares que em muitos países, a exemplo do Brasil, não fizeram justiça a suas vitimas.
Como esquecer dos trabalhadores que morrem de exaustão nos canaviais, ou as crianças que estão morrendo no crack na rua Guaianazes, ou os milhares de índios mortos na colonização que os livros de história quase que não citam, os que morrem de fome motivo de vergonha da nossa história como humanidade, as mortes nas guerras do Iraque,Bosnia, Georgia, ou os que morrem no fogo cruzado entre Israel e Palestina, e como esquecer das vitimas do terremoto de El Salvador que Jon Sobrino nos lembra tão bem no seu livro “Onde está Deus?”.
Existem alguns que conseguiram enxergar a história da visão das vitimas e lembrar-se delas como Jesus, Gandhi, Marx, Galeano, Benedetti, Sobrino entre tantos outros, mas não são tão ouvidos pelo fato de não estarem de acordo com o padrão que a modernidade exige de enxergar a história do lado de cima e não a partir de baixo, isto é uma heresia para o deus mercado.
Mas enquanto a história for vista de cima para baixo e enquanto o deus da modernidade for o mercado, então as vidas valerão de acordo com o que contribuíram para que estedeus se fortaleça e, por este motivo, sempre haverá justificativas em relação aqueles que padecem como sacrifício vivo em prol deste deus chamado mercado.
Escrito por Paulo Escobar
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