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28 fevereiro 2010

desabafo

Estou cansado!
Ricardo Gondim

Cansei! Entendo que o mundo evangélico não admite que um pastor confesse o seu cansaço. Conheço as várias passagens da Bíblia que prometem restaurar os trôpegos. Compreendo que o profeta Isaías ensina que Deus restaura as forças do que não tem nenhum vigor. Também estou informado de que Jesus dá alívio para os cansados. Por isso, já me preparo para as censuras dos que se escandalizarem com a minha confissão e me considerarem um derrotista. Contudo, não consigo dissimular: eu me acho exausto.

Não, não me afadiguei com Deus ou com minha vocação. Continuo entusiasmado pelo que faço; amo o meu Deus, bem como minha família e amigos. Permaneço esperançoso. Minha fadiga nasce de outras fontes.

Canso com o discurso repetitivo e absurdo dos que mercadejam a Palavra de Deus. Já não agüento mais que se usem versículos tirados do Antigo Testamento e que se aplicavam a Israel para vender ilusões aos que lotam as igrejas em busca de alívio. Essa possibilidade mágica de reverter uma realidade cruel me deixa arrasado porque sei que é uma propaganda enganosa. Cansei com os programas de rádio em que os pastores não anunciam mais os conteúdos do evangelho; gastam o tempo alardeando as virtudes de suas próprias instituições. Causa tédio tomar conhecimento das infinitas campanhas e correntes de oração; todas visando exclusivamente encher os seus templos. Considero os amuletos evangélicos horríveis. Cansei de ter de explicar que há uma diferença brutal entre a fé bíblica e as crendices supersticiosas.

Canso com a leitura simplista que algumas correntes evangélicas fazem da realidade. Sinto-me triste quando percebo que a injustiça social é vista como uma conspiração satânica, e não como fruto de uma construção social perversa. Não consideram os séculos de preconceitos nem que existe uma economia perversa privilegiando as elites há séculos. Não agüento mais cultos de amarrar demônios ou de desfazer as maldições que pairam sobre o Brasil e o mundo.

Canso com a repetição enfadonha das teologias sem criatividade nem riqueza poética. Sinto pena dos teólogos que se contentam em reproduzir o que outros escreveram há séculos. Presos às molduras de suas escolas teológicas, não conseguem admitir que haja outros ângulos de leitura das Escrituras. Convivem com uma teologia pronta. Não enxergam sua pobreza porque acreditam que basta aprofundarem um conhecimento “científico” da Bíblia e desvendarão os mistérios de Deus. A aridez fundamentalista exaure as minhas forças.

Canso com os estereótipos pentecostais. Como é doloroso observá-los: sem uma visitação nova do Espírito Santo, buscam criar ambientes espirituais com gritos e manifestações emocionais. Não há nada mais desolador que um culto pentecostal com uma coreografia preservada, mas sem vitalidade espiritual. Cansei, inclusive, de ouvir piadas contadas pelos próprios pentecostais sobre os dons espirituais.

Cansei de ouvir relatos sobre evangelistas estrangeiros que vêm ao Brasil para soprar sobre as multidões. Fico abatido com eles porque sei que provocam que as pessoas “caiam sob o poder de Deus” para tirar fotografias ou gravar os acontecimentos e depois levantar fortunas em seus países de origem.

Canso com as perguntas que me fazem sobre a conduta cristã e o legalismo. Recebo todos os dias várias mensagens eletrônicas de gente me perguntando se pode beber vinho, usar “piercing”, fazer tatuagem, se tratar com acupuntura etc., etc. A lista é enorme e parece inexaurível. Canso com essa mentalidade pequena, que não sai das questiúnculas, que não concebe um exercício religioso mais nobre; que não pensa em grandes temas. Canso com gente que precisa de cabrestos, que não sabe ser livre e não consegue caminhar com princípios. Acho intolerável conviver com aqueles que se acomodam com uma existência sob o domínio da lei e não do amor.

Canso com os livros evangélicos traduzidos para o português. Não tanto pelas traduções mal feitas, tampouco pelos exemplos tirados do golfe ou do basebol, que nada têm a ver com a nossa realidade. Canso com os pacotes prontos e com o pragmatismo. Já não agüento mais livros com dez leis ou vinte e um passos para qualquer coisa. Não consigo entender como uma igreja tão vibrante como a brasileira precisa copiar os exemplos lá do norte, onde a abundância é tanta que os profetas denunciam o pecado da complacência entre os crentes. Cansei de ter de opinar se concordo ou não com um novo modelo de crescimento de igreja copiado e que vem sendo adotado no Brasil.

Canso com a falta de beleza artística dos evangélicos. Há pouco compareci a um show de música evangélica só para sair arrasado. A musicalidade era medíocre, a poesia sofrível e, pior, percebia-se o interesse comercial por trás do evento. Quão diferente do dia em que me sentei na Sala São Paulo para ouvir a música que Johann Sebastian Bach (1685-1750) compôs sobre os últimos capítulos do Evangelho de São João. Sob a batuta do maestro, subimos o Gólgota. A sala se encheu de um encanto mágico já nos primeiros acordes; fechei os olhos e me senti em um templo. O maestro era um sacerdote e nós, a platéia, uma assembléia de adoradores. Não consegui conter minhas lágrimas nos movimentos dos violinos, dos oboés e das trompas. Aquela beleza não era deste mundo. Envoltos em mistério, transcendíamos a mecânica da vida e nos transportávamos para onde Deus habita. Minhas lágrimas naquele momento também vinham com pesar pelo distanciamento estético da atual cultura evangélica, contente com tão pouca beleza.

Canso de explicar que nem todos os pastores são gananciosos e que as igrejas não existem para enriquecer sua liderança. Cansei de ter de dar satisfações todas as vezes que faço qualquer negócio em nome da igreja. Tenho de provar que nossa igreja não tem título protestado em cartório, que não é rica, e que vivemos com um orçamento apertado. Não há nada mais desgastante do que ser obrigado a explanar para parentes ou amigos não evangélicos que aquele último escândalo do jornal não representa a grande maioria dos pastores que vivem dignamente.

Canso com as vaidades religiosas. É fatigante observar os líderes que adoram cargos, posições e títulos. Desdenho os conchavos políticos que possibilitam eleições para os altos escalões denominacionais. Cansei com as vaidades acadêmicas e com os mestrados e doutorados que apenas enriquecem os currículos e geram uma soberba tola. Não suporto ouvir que mais um se auto-intitulou apóstolo.

Sei que estou cansado, entretanto, não permitirei que o meu cansaço me torne um cínico. Decidi lutar para não atrofiar o meu coração.

Por isso, opto por não participar de uma máquina religiosa que fabrica ícones. Não brigarei pelos primeiros lugares nas festas solenes patrocinadas por gente importante. Jamais oferecerei meu nome para compor a lista dos preletores de qualquer conferência. Abro mão de querer adornar meu nome com títulos de qualquer espécie. Não desejo ganhar aplausos de auditórios famosos.

Buscarei o convívio dos pequenos grupos, priorizarei fazer minhas refeições com os amigos mais queridos. Meu refúgio será ao lado de pessoas simples, pois quero aprender a valorizar os momentos despretensiosos da vida. Lerei mais poesia para entender a alma humana, mais romances para continuar sonhando e muita boa música para tornar a vida mais bonita. Desejo meditar outras vezes diante do pôr-do-sol para, em silêncio, agradecer a Deus por sua fidelidade. Quero voltar a orar no secreto do meu quarto e a ler as Escrituras como uma carta de amor de meu Pai.

Pode ser que outros estejam tão cansados quanto eu. Se é o seu caso, convido-o então a mudar a sua agenda; romper com as estruturas religiosas que sugam suas energias; voltar ao primeiro amor. Jesus afirmou que não adianta ganhar o mundo inteiro e perder a alma. Ainda há tempo de salvar a nossa.

Soli Deo Gloria.
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18 fevereiro 2010

CARNAVAL

TEXTO DE RICARDO PÁDUA




Estive pensando sobre algumas coisas neste tempo que acontece o carnaval. É um tempo muito bom onde muitos de nós esperamos o ano todo, e ate nos planejamos para isso, alguns tiram férias de seus trabalhos, outros juntam dinheiro o ano todo para pagar o tão esperado acampamento de carnaval, ou o retiro, cada um prefere um nome.
É tipo algo que dá um Up na nossa vida espiritual, alguns passam o ano todo esperando pra terem um '' Renovo Espiritual ''
Nos nossos acampamentos, temos muitas coisas, e posso afirmar algumas são muito legais... As famosas partidas de futebol que rende assunto para o ano todo, as festas, as noites sem dormir, e algumas igrejas mais liberais como a minha até rola uma balada, e vou confessar eu acho muito massa isso.
Alguns não fazem idéia de como é difícil organizar um acampamento, falo isso com propriedade pois já fui lider de jovens por vários anos, e passamos literalmente o ano todo pensando o que fazer para que os jovens venham aproveitar ao maximo esse tempo.
Alguns esperam o acampamento para fazer novas amizades, outros ate arriscam xavecar, e conheço alguns casos de namoro que começaram em acampamentos e permanecem ate hoje. E tem aqueles que passam todos os dias sem dormir, quando todos tentam dormir, eles saem para digamos             '' aproveitar a noite '' e vou confessar se não ficar na cola deles, eles aprontam.... há, quantas noites sem dormir atras destes eu já passei, mas no final tudo deu certo.
Como é dificil organizar um acampamento, quantas dores de cabeça buscando recursos para fazer um bom acampamento com o melhor custo beneficio, onde todos possam ter acesso, mas no final é gratificante ver alguns depoimentos das coisas que Deus faz nos acampamentos, eu fico extremamente feliz com tais coisas.
Porem depois de alguns anos vivendo isso eu comecei a pensar: Porque muitos esperam o acampamento para terem um renovo espiritual? Porque todo o carnaval saimos das nossas casas e cidades para irmos a um local afastado de onde esta acontecendo os desfiles, e festas?
Fico pensando, será que temos que nos retirar porque os nossos jovens não conseguem conviver nesse meio? Será que se não tivermos um acampamento nossos jovens serão atraidos pela famosa ''festa mundana''? Se a resposta é sim eu começo a questionar onde nossos jovens estão firmados, ou melhor, em que eles estão firmados?
Confesso que demorou um certo tempo para chegar a esse pensamento, tive que participar e realizar muitos acampamentos pra chegar a essa conclusão, mas hoje sou defensor de uma ideia que: A igreja não deve se retirar, quando as pessoas mais precisam. Não sei quantos de vocês tiveram a oportunidade de participar por exemplo de um evangelismo no sambodrómo de São Paulo, ou no Rio de Janeiro, passar a noite na avenida com as pessoas que ali estão participando do carnaval, podendo servir elas de alguma maneira...
Aposto que alguns de vocês neste exato momento, está pensando que não adianta ir falar de Jesus no carnaval pois muitos já estão embriagados, outros drogados, onde eles só querem bagunçar, ninguém em um lugar desse vai querer ouvir sobre Jesus.
Eu também já pensei isso, porem depois de ter uma experiência de estar no meio deles, podendo falar do amor de Jesus e podendo ver o desejo de alguns para ouvir sobre Jesus, eu nunca mais quero estar em um acampamento no carnaval. Certa vez estávamos evangelizando no sambodrómo de São Paulo e um gatoro de aproximadamente 12 anos de idade, estava vendendo cerveja com uma grande caixa de isopor nas costas, e paramos para conversar com ele, tivemos um bom tempo com ele e ao final ele disse que queria conhecer esse Jesus que nós falamos pra ele. Após alguns minutos ele voltou com seu irmão e com seu pai, pedindo que nós, falasse-mos sobre esse tal Jesus para seu Pai também, porque assim seu pai iria deixar de bater neles, quando ele conhece Jesus. Confesso que é essas coisas que me fazem passar a noite inteira na avenida. Qual o propósito da igreja na terra? Fazer Jesus conhecido correto? So conheço uma maneira de fazer Jesus conhecido, se relacionando com pessoas, gastando tempo com as pessoas. Existe um texto na biblia que eu confesso que eu sou apaixonado em especial por ele: Pois o Filho do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido. (Lc 19.10)  
E diante disso eu não vejo outro propósito de ser igreja na terra, lembrando que a igreja somos nós onde estamos, as pessoas já estão cheias daquilo que nós falamos como igreja, elas estão esperando ver as atitudes de tudo aquilo que falamos. Tenho aprendido a cada dia, que não existe melhor maneira de fazer um discípulo do que ensinando com a própria vida. Ou seja a maneira que eu vivo vai fazer a diferença na vida das outras pessoas.....
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Deus, Evolução e Contingência
Andrea

Postei um vídeo de Tom Honey  ( www.ted.com/talks/tom_honey_on_god_and_the_tsunami.html ),  pastor anglicano.Obviamente as considerações de Honey não propõem a ser mais um dogma cristão. Até porque ele repete várias vezes que a melhor resposta para muitas perguntas é "I don't know".
Já recebi várias ressonâncias sobre a palestra do Tom Honey, mas achei que a resposta da Andrea deveria ser postada (com a devida autorização). Uma leitura cuidadosa do texto da Andrea avançará a reflexão sobre Evolução, Deus e Contingência.
Prezado Ricardo, boa noite,
Em primeiro lugar, gostaria de ressaltar o fato de que fui ateísta durante 30 anos, e faz apenas e tão somente dois anos e pouco que me tornei cristã, por isso minhas opiniões não são nada ortodoxas. Posso dizer ao senhor que em momento algum, nesses dois anos de vida cristã, percebi que houvesse qualquer relação entre a descrição do Deus dos exércitos, feita pelos hebreus no antigo testamento, e o Deus de Jesus. Nunca me entrou na cabeça, como os cristãos podem considerar que o mesmo Deus de Jesus, patrocinou tantas atrocidades no antigo testamento, sem ver problema algum nisso, sem ver contradição alguma. É ponto pacífico para mim, que muitas coisas que os hebreus fizeram supostamente em nome ou com a ajuda de Deus, nada teve a ver com Deus. E boa parte dos relatos sequer aconteceu, e se aconteceu, não foi da forma como está descrito na bíblia. Não tem como juntar o Deus de amor do novo testamento, com o Deus dos exércitos do antigo. Eu não perco meu tempo com esse tipo de malabarismo em defesa do deus tribal dos hebreus. Simplesmente descarto o que é humano demais na bíblia para ter vindo de Deus, e pronto. Sem medo.
Com relação ao assunto: Deus está no controle?
Eu, como cientista, tenho o dever de não buscar explicações sobrenaturais para substituir as explicações naturais que já existem, para fenômenos como terremotos, tsunamis, furacões, ou a evolução biológica. Jamais acreditei em Gênesis literal, por exemplo. Esses fenômenos fazem parte das condições naturais do nosso planeta, o qual possui sistemas todos interligados, e cujo equilíbrio é bastante delicado. Terremotos são naturais, num planeta constituído de uma massa incadescente de rocha, coberta por uma fina camada de rocha solidificada, e ainda por cima dividida em placas que se movem e se atritam entre si (Aliás, o conhecimento que possuo sobre o funcionamento das coisas na natureza, me impede de seguir a linha do design inteligente - as coisas na natureza não são perfeitamente desenhadas). A tsunami, nada mais é do que uma onda gigante, provocada por um terremoto sub-aquático. Não depende de Deus nem iniciar o processo, nem pará-lo. É apenas algo que naturalmente ocorre ao nosso planeta. A morte é parte da vida, nós mesmos nos alimentamos da morte de outros seres vivos, plantas e animais.
As tragédias também afetam animais e vegetais, eles estão ainda mais expostos a elas do que nós, e muitas vezes nós que somos culpados por elas, eles não. Deus não tem propósito algum com a tragédia, o que pode acontecer, é que durante uma tragédia como essa, pessoas podem ter a oportunidade de se mobilizar e expressar o amor de Deus por quem sofre. E isso não depende de religião. Deus usa quem se disponibiliza a ajudar, quem dá a cara a tapa, quem está lá, presente, solidário, arriscando a própria vida às vezes. Nunca reparou que é mais comum ver pessoas fazendo mal a outras "em nome de Deus"? Nem sempre quem faz o bem, diz que está fazendo isso em nome de Deus; está, mas muitas vezes não tem consciência disso. E os religiosos em geral, mtas vezes usam a oportunidade para vender a igreja a quem está sofrendo. Ajudam, para depois exigir que a pessoa faça parte da igreja, distribuem folhetos para deixar claro que foi tal igreja que ajudou. O vento sopra onde quer, e Deus usa quem quiser, quem estiver disponível.
Quando ocorreram aquelas enchentes terríveis em Santa Catarina, a Ana Paula Valadão soltou uma bobagem sem tamanho em seu blog, dizendo que era castigo de Deus pela depravação da Oktoberfest. E o pior é que houve muitas cabeças, sem cérebro, que concordaram. Catástrofes naturais são apenas isso: catástrofes naturais. Fazem parte do funcionamento do planeta. Sempre aconteceram e sempre vão acontecer, acontecem no Ocidente, no Oriente, independente da religião, independente da crença. Atribuir a Deus qualquer participação ou controle sobre isso, é um erro, no meu ponto de vista. Por exemplo: se somos nós que jogamos lixo nos rios e impermeabilizamos as cidades com concreto e asfalto, Deus tem responsabilidade pela enchente, ou obrigação de fazer a água desaparecer do nada? Ou temos que arcar com as consequências do nosso desrespeito ao meio ambiente e ficar debaixo dágua?
Muitas pessoas me criticam pelo meu ceticismo, porque não creio que os milagres descritos no antigo testamento tenham realmente acontecido. Não vejo Deus dando esse tipo de espetáculo milagroso agora, então porque acreditaria que antes Ele os executava a torto e direito? A seca no nordeste? Será que o povo do nordeste não pede chuva pra Deus? Claro que pede. Só que Deus não pode restaurar o clima que nós detonamos. Seria fácil demais, nós fazemos todo tipo de cagada, detonamos com o planeta inteiro, e aí pedimos a Deus que resolva milagrosamente, que restaure o planeta, ou culpamos Deus por não ter evitado a tragédia.
Costumo dizer para as pessoas, que orar pela interrupção do aquecimento global não vai resolver coisa nenhuma. O que vai resolver é agir, tomar atitudes. Colocar mãos a obra e se comprometer de verdade em consumir menos, poluir menos, ter uma vida mais simples, respeitar o planeta que também é com um organismo vivo. Orar vai ajudar a mudar mais a sua mente do que empurrar Deus a fazer alguma coisa. Porque é a nossa mentalidade que precisa ser mudada, não a de Deus.
Acredito também que Deus está em cada pessoa, e que é real essa conexão invisível entre todos os seres humanos. A mente humana ainda possui muitos mistérios a desvendar. Também gosto de dizer que nós somos o corpo de Deus aqui na Terra, somos os braços dEle que estendem a mão a quem está caído, os pés dEle que caminham até quem está precisando de ajuda, o colo que vai consolar alguém que precisa chorar... então cabem a nós as ações que muitas vezes achamos que devem vir dEle, q esperamos que caiam do céu. Alimentar os famintos, dar de beber a quem tem sede, teto a quem não tem onde morar, roupa para quem não tem o que vestir, consolo a quem sofre, compartilhar a vida, a morte.
Colocar um exército para orar pelos famintos, não vai adiantar nada, vai apenas aliviar a consciência de quem acha que está fazendo alguma coisa, sentado no banco da igreja repetindo orações. Seria melhor fazer cada um dos membros desse exército de crentes, além de orar, doar um prato de comida, uma cesta básica. Acredito que o evangelho exige também ação, e que a oração não é para convencer Deus a se mexer, e sim, para mudar a nós mesmos, e nos empurrar a fazer o que é necessário. Orar pelo fim da corrupção no Brasil não vai adiantar, se não fazemos nada contra isso na prática, e se até os crentes que se envolvem com política, são também corruptos, em vez de darem exemplo de integridade. Ungir cidades com óleo e fazer atos proféticos para "entregar cidades a Jesus", não vai adiantar nada, porque seguir Jesus é uma escolha pessoal.
Deus não passa por cima da vontade de ninguém desse jeito. Acredito que se Deus nos ama, somos livres para fazer nossas escolhas, porque não existe amor, sem liberdade. Não posso ser coagida a amar Deus. Mas também ficamos sujeitos às consequências das escolhas que fizermos. Não tenho direito de pedir que Ele me cure de um câncer de pulmão, se eu sabia que fumando, corria o risco de ter um câncer. Sim, tem mtas pessoas que nunca fizeram nada para procurar doenças, e morrem de câncer, mas aí é contingência da vida, nosso DNA pode ter falhas que provocam o aparecimento de câncer, nossa comida tem produtos químicos cancerígenos que muitas vezes nem sabemos, o ar que respiramos está cheio de poluentes também cancerígenos.
Deus não tem obrigação de trabalhar em cima de tantas variáveis para evitar que um crente tenha câncer.. Ele não faz isso... pode ajudar a pessoa a lidar com a doença, e se recuperar mais rapidamente, ou simplesmente aceitar a inevitabilidade da morte com mais tranquilidade, e isso tem comprovação científica. Nosso sistema imunológico é muito influenciado pela nossa atitude mental, e a fé ajuda nesses casos a estimular o sistema imune. Mas nunca, jamais diria a alguém para deixar de se tratar devidamente com médicos e ficar só orando pela cura, como muitos pastores criminosos fazem.
Tempos atrás vi uma campanha para reunir um determinado número de pessoas (era um número gigantesco de pessoas envolvidas) para fazer cópias manuscritas da bíblia, para serem guardadas em museus. Pensei comigo: já pensou se os crentes se mobilizassem dessa forma, para ajudar pessoas necessitadas, em vez de se unir em propósitos inúteis como esse? Um milagre aconteceria. Já pensou se todos esses que se dizem seguidores de Jesus, fizessem o que ele ensinou (amar os inimigos, dar a outra face, cuidar dos órfãos e das viúvas etc), o tamanho do milagre que aconteceria? Mas ficamos pedindo e esperando intervenção sobrenatural, queremos que Deus faça o que Ele ordenou que NÓS fizéssemos. Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Claro que Ele não faz nossa parte. O amor de Deus é vivo, está em nós e precisa ser movimentado por nós. Se não fazemos nem o que poderíamos estar fazendo, podemos acusar Deus e exigir intervenção sobrenatural?
Auschwitz aconteceu, não porque Deus permitiu que Hitler fizesse o que fez, mas porque as pessoas que deviam ter feito alguma coisa efetiva para impedir, nada fizeram, a não ser quando já era tarde demais. E o próprio Hitler, como consta no Mein Kampf, acreditava estar imbuído de uma missão divina. E agora? E as duas bombas atômicas foram tão criminosas quanto os campos de concentração. Não acredito em guerra santa, não acredito que Deus precisa ser defendido ou protegido de coisa alguma.
Não acredito também que Deus protege sempre mais os crentes do que os outros. Sempre acontecem acidentes nas estradas, com ônibus cheios de crentes, onde muitos deles morrem. Acidentes são acidentes, acontecem com qualquer um. Eu jamais diria, caso fosse a única sobrevivente de um acidente, que foi Deus quem me livrou ou salvou. Não acho que tenha qualquer direito a vida mais do que qualquer outra pessoa, não me considero melhor do que os outros por ser cristã. Não nego que antes de viajar de ônibus, coisa que faço com frequência, costumo orar e pedir a Deus que possamos chegar ao destino com segurança. Não sei dizer com certeza se isso faz alguma diferença, faço, porque de qualquer forma me sinto bem orando desta forma, pedindo por todos os passageiros, sem nem saber quais são cristãos e quais não são. Acredito em oração, acredito que oração pode ajudar as pessoas, além de fazer bem a nós mesmos orar pelos outros, porque tira o foco do nosso próprio umbigo, mas não creio que ela seja capaz de proporcionar mudanças drásticas no mundo físico: fazer chover ou parar de chover, abrir o mar, e coisas assim. A maioria das mudanças teria a ver com trocas de energia, porque a oração é um exercício mental, e o cérebro é um órgão que gasta muita energia, principalmente quando está concentrado em algo.
Eu, como hiperativa que sou, depois que adquiri o hábito de orar antes de dormir, passei a ter noites de sono bem melhores. Orar antes de dormir, de forma silenciosa, me faz bem. E já houve ocasiões inexplicáveis, onde acordei no meio da noite, do nada, e me coloquei a orar por outras pessoas, sem saber nem o motivo. Depois, acabava descobrindo. E acredito que ter um absoluto como Deus, nos faz ter uma relação mais equilibrada com os outros e conosco mesmos. Se creio que Deus habita em mim e em todos os demais, passo a ver os outros e a mim mesma, com outros olhos. E isso realmente acontece, com as pessoas que conseguem entender que Deus é amor. Não são todas. Infelizmente. Mas se Deus tem um propósito para a vida de cada um de nós, esse propósito certamente tem a ver com expressar amor pelas pessoas. Repito sempre também, que cada um tem o Deus que merece. Tem gente que precisa de um Deus malvado e tirano pra andar na linha, tem outras pessoas que são de bom caráter naturalmente, então não conseguem ver Deus dessa forma castigadora e vingativa. E teologias diferentes, muitas vezes são apenas pedaços de um mesmo grande todo, do qual cada um consegue ver só uma parte.
Não costumo orar pedindo coisas a Deus, é mais frequente orar por necessidades de outros, e usar a oração como um momento de desabafar, falar sobre alegrias, tristezas, raiva, em vez de descontar nos outros, converso com Deus, e fico em paz. Brinco dizendo que em vez de gastar com terapia, ou me estressar brigando com as pessoas, eu oro, e fica tudo bem... = P E já senti aquela paz que "vem do alto", que muitas vezes me impede de gastar energia e ficar doente me preocupando com coisas que não tenho como resolver, que não dependem apenas de mim. De alguma forma, é melhor deixar essas coisas que não se pode controlar, "na mão de Deus", e aceitar os resultados, sejam quais forem, bons ou maus. Ajuda a levar a vida de uma forma bem mais leve, não se conformando com aquelas coisas onde vc pode interferir e atuando nelas ativamente até onde for possível, e abrindo mão do resto, e abrir mão também de se desgastar se preocupando com o resto. Posso dizer por mim, que o hábito de orar só me trouxe benefícios nesse sentido.
Sou fã de Joseph Campbell, acredito que os estudos dele ajudam a ver a religião em seu verdadeiro papel. Recomendo a leitura dos livros dele.
E acho sim que dizer um simples "não sei" seria melhor do que muitas teorias e teologias mirabolantes que vejo por aí. Se me perguntam como foi que Deus se envolveu na evolução biológica, eu não sei e respondo que não sei. Só sei que a evolução biológica acontece, porque a ciência me diz isso. E creio que a fé pode realizar coisas como curas, mas em casos bastante específicos, e pode também ajudar as pessoas a encararem a vida de uma forma mais positiva; assim como ver os outros como imagem de Deus nos torna pessoas mais compassivas, pacientes. Mas tudo necessita ser treinado, exercitado. É uma escolha diária.
Não sei de muita coisa, muito a aprender ainda, mas tenho certeza que nenhuma religião que não leve as pessoas a viverem melhor umas com as outras, consigo mesmas e com o planeta, merece ser considerada verdadeira religião. Porque a essência da religião é "religar" coisas que estavam distantes. E não causar guerras, divisões, brigas teológicas, nada disso vem de Deus. Nenhuma religião que não gere amor e paz e que não leve as pessoas a transformar a realidade, inclusive a social, pode ser considerada verdadeira. Não para mim, pelo menos. O homem é um ser religioso por natureza, mas precisa direcionar isso de forma positiva. Não importa tanto provar se Deus existe ou não, mas sim saber que o homem tem essa necessidade religiosa dentro dele, tem esse lado espiritual que precisa ser bem orientado. E o papel dos líderes religiosos, no caso, é esse, levar as pessoas a expressar essa religiosidade, inerente ao ser humano, de forma positiva, saudável, que gere amor por si mesmas, por Deus, pelo próximo e pelo planeta. E não sentimentos tribais, de "povo escolhido", melhor do que os outros, ou o medo doentio do inferno e do castigo eterno, e também não se tornar massa de manobra pra uma casta sacerdotal se locupletar.
E a religião proposta por Jesus é simples, linda e simples. Nós que complicamos. Não digo que seja fácil executar, não é, mas só tentando, já podemos trazer alguma melhoria para nossas vidas e para a vida das pessoas próximas.
Uma boa noite e um grande abraço!
Andrea
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