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Resumo do livro História do Pensamento Cristão de Paul Tillich


  
Tentarei neste breve resumo expor alguns pensamentos de ilustres pensadores de um dos períodos mais importantes da idade média. Nesta época nosso destino estava sendo traçado por vários escritos como, por exemplo, os de Pedro Lombardo que viveu no sec. XII sua obra, as sentenças representa  o tipo sistemático da idade media. Esta época pode ser dividida em três etapas representadas por três nomes, Boaventura, Tomás de Aquino e Duns Escoto.
Este século foi tão importante primeiramente pelas cruzadas, isso levou os cristãos entrar em contato com outras crenças e povos o que os levou a uma auto-reflexão e o surgimento de importantes escritos como o do filósofo Aristóteles. Estes conflitos fez com que produzissem sistemas teológicos da mais alta qualidade, neste  período surgiram duas grandes ordens, a franciscana e as dominicanas. Francisco continuava com a vida e teologia monástica, porém acrescentou  a isso o pensamento que a natureza também  pertencia ao poder da vida divina, podemos dizer que Francisco foi o precursor do movimento renascentista,ensinava dentre outras  coisas que os leigos deveriam fazer parte do mesmo corpo sagrado minimizando assim a hierarquia, fundando assim a chamada ordem terceira ou tertiaries, sendo a primeira dos monges homens, a segunda das freiras mulheres e a terceira dos leigos.
Domingos tomou a tarefa de pregar para o povo e de defender a fé. O apologista tornou-se parte da ordem da inquisição defendia sua fé a qualquer custo mesmo sendo preciso o uso de violência ou até mesmo de morte. Mas isso não trouxe só negatividade nesta época surgiram grandes obras apologéticas e grandes pregadores como Meister Eckhart; consciente ou inconscientemente este período foi de grandes batalhas, tanto dentro  do sistema  católico como conflitos externos, esses fatos marcaram o século XIII mas refletem até os dias de hoje.
Dominicanos, aristotélicos e franciscanos travaram grandes  debates teológicos durante o século XIII. Além de filosofia clássica que relatava sobre o cotidiano como domínios da vida, natureza, política e ética,
Aristóteles dizia que  o homem participava do conhecimento divino, do mundo e de si mesmo ou, pelo contrario, reconhecemos Deus a partir do mundo fora de nós? Deus vem primeiro ou no fim ou no fim a partir do processo de conhecimento?”[1]
Agostinianos criam que todo o conhecimento partia de Deus. São esses tipos de debates iniciados nesta época que nos deixaram um legado incomparável e inconcebível, a época chamada de idade das trevas teve seus momentos de glória e luz. Devido a tantas descobertas e a debates  sobre diversos assuntos mas principalmente sobre a origem do conhecimento, em uma época onde religião era tudo ficou marcado que todos os conhecimentos são do Divino, seja ele matemática, física, astronomia, medicina ou qualquer outro conhecimento, o mesmo só se faz possível através da participação do Divino, a este evento é denominado de teônoma.
Tomás de Aquino discordava desse pensamento, assim como os franciscanos dizia:
[...] não representavam a presença divina em nós; são, ao contrario a obra divina em nós; são finitos. Assim no ato do conhecimento, não temos Deus, mas por meio desses conhecimentos podemos chegar a ele. Não começamos com os princípios divinos em nós e daí descobrimos o finito, como os franciscanos; começamos com o mundo finito e depois talvez, chegamos ao conhecimento de Deus em nossos atos cognitivos.[2]
Duns Escoto, discordou tanto de Aquino como Aristóteles, dizia duns que o ser em si é somente uma palavra e não pode ser aplicada a Deus e ao mundo mesmo que acrescida de verdadeiro, bom e uno, duns entendia a grande distância entre o finito e o infinito empírico.
“A teonomia original da tradição agostinina-franciscana dividiu-se em completa autonomia científica, de um lado, e completa harmonia eclesiástica de outro” [3]
As divergências de pensamentos não se findarem vão muito além da sabedoria ou conhecimento cientifico, ou de Deus como, por exemplo, a respeito da razão e revelação, segundo boaventura, só é revelatória à medida que os princípios da verdade residem em sua própria profundeza. Já Tomás dizia que a razão era capaz de expressar a revelação, porem Okckham discorda de ambos, acreditava que a razão coloca-se ao lado da revelação ou ate mesmo em oposição a ela. No final da idade média qualquer pensamento poderia ser teologicamente verdadeiro e filosoficamente falso, ou vice-versa.
O dilema epistemológico acerca de Deus se divide em três níveis.
1º Sendo Deus a causa primeira, causa aqui que significa conhecimento, e primeira não no sentido temporal, mas em fundamento, de todas as causas.
2º Sendo assim Deus é o creatrix universalium substantia, substancia criadora de tudo que é. Causa essa que não pode ser entendida em qualquer área que não seja a do intelecto, não de inteligência, mas sim do momento que Deus é para si mesmo o sujeito e o objeto ao mesmo tempo. Este é o conhecimento que Deus tem de si mesmo, em outras palavras a substancia criadora , é portador do sentido.
3º Agora, no entanto Deus é vontade, aqui nos referimos ao poder produtor do fundamento do ser, esta vontade tem a natureza do amor, logo a sustância criadora do mundo tem significado e amor, é intelecto e vontade. Se anteriormente Deus conhecia a si mesmo, agora, entretanto ele quer a si mesmo e se ama como bem absoluto. Ama suas criaturas e lhes dá o bem que fundamenta em si, por isso esperamos por ele, a fim de vislumbrarmos o bem supremo.
O debate agora já não se dava em torno da epistemologia, mas sim do relacionamento do intelecto com a vontade de Deus, para Tomás o intelecto é o que fazia com que o homem fosse humana sendo, igualmente a característica de Deus. Se opondo a essa doutrina duns diz que homem e Deus são vontade, que por natureza  é criadora, segundo Duns  não há outra razão  para a vontade divina ser essa vontade. O bem é bom, simplesmente por que deus quer.  Duns afirma que não existe razão para o mundo ser o que é muito menos para a salvação ser como é apenas para afirmar que Deus pode tudo menos deixar de ser Deus.  O poder absoluto e o poder ordenado de Deus, isto faz com que tudo seja como é porque Deus assim quis. Este pensamento positivista nos influencia até hoje.
Doutrinas de Tomás de Aquino
Tomás dizia que a graça não subistituia a natureza, mas a completava.  A graça apenas contradiz a natureza deformada,  defendia a idéia que Deus dera a adão o donum superadditum,  um acréscimo aos dons naturais o que permitia que adão podia permanecer unido a Deus. Tanto no tomismo como na renascença a criação é boa com o homem e não necessita acrescentar nenhum dom sobrenatural, porém o protestantismo afirma que pela queda do homem e separação de Deus se faz necessário a graça, para manifestar o perdão de Deus. O principio tomista também vale para a relação revelação com razão. Tomas defende que a revelação não destrói a razão, mas a realiza.
Para o protestantismo o dualismo, reino de Deus e poderes demoníacos, o mundo criado não identifica com o caído e o novo ser é a regeneração do ser, já o catolicismo alega a mediação da substancia soberana somado a hierarquia nas atividades sacramentais. Lutero afirma que qualquer ser é justificado enquanto pecador.
Tomás entendeu o argumento ontológico, não como prova, mas  como intelecto, porém precisava encontrar uma via que fosse do mundo para Deus, disse então que o mundo é primeiro enquanto dado a nós. Visando preencher esta lacuna Tomás cria o argumento cosmológico, segundo ele Deus é conhecido a partir do exterior. Olhando para o mundo descobrimos a necessidade lógica de um ser supremo. Visando defender seu pensamento Tomás elaborou cinco argumentos.
  1. “Argumento a partir do movimento. O movimento exige causa. Essa causa também é movida. É preciso remontar um motor imóvel que chamamos de “Deus”. trata-se de um argumento que parte do movimento, em termos de causalidade. Para chegar à causa do movimento no mundo, é necessário encontrar algo que não seja movido
  2. Cada efeito tem sempre uma causa, mas cada causa é efeito de uma causa anterior. Assim vai-se de causa em causa, mas para evitar a regressão  infinita, precisamos  falar de uma causa primeira. Essa causa não é primeira no sentido temporal, segundo Tomás mas em dignidade; é a causa de todas as outras.
  3. Tudo no mundo é contingente. Não é necessário que as coisas sejam como são. Poderiam ser diferentes. Mas tudo é contingente e pode desaparecer no abismo do nada, porque sua existência não é necessária, deve haver alguma coisa absolutamente necessária de onde se derivam todas as coisas contingentes.
  4. Há propósitos na natureza do homem. Mas se agirmos em termos de propósitos, qual é o propósito? Quando o alcançamos  perguntamos novamente para que serviu. Então precisamos de um propósito final, um fim ultimo além de todas as mediações. Os propósitos preliminares se transformam em meios de serem atingidos. Somos levados, a idéia de um propósito final, de um significado absoluto, como talvez, diríamos hoje.
  5. O quinto argumento depende de Platão. Menciona graus de perfeição, no mundo. Algumas coisas são melhores ou mais belas ou mais verdadeiras do que outras. Más de há graus de perfeição, deve haver alguma coisa absolutamente perfeita a partir da qual distinguimos os graus inferiores da perfeição. Sempre que emitimos juízos de valor pressupomos algo além dos graus.”[4]
Em todos os argumentos são validos enquanto estudos e analise, porem é impossível provar a veracidade dos mesmos em favor da existência de Deus.
Duns acentua a idéia a respeito da predestinação, relata que tanto a vontade humana quanto a divina são absolutas e determinadas por si mesmas. Duns defendia a idéia pelagiana de livre arbítrio, enquanto Aquino cria em termos mais deterministas. Seu ensino ético como toda sua obra se baseava em níveis de graus porem era de estrutura racional relacionadas a o pensamento de Platão que abrangia quatro áreas, coragem, temperança, sabedoria e justiça. Assim o homem atingiria a felicidade, a qual muitos criticam usando o argumento que fomos criados para gloria de Deus e não para eudaimonia, que quer dizer felicidade ou exatamente o que a teologia crista chama de bem aventuranças.
Assim se finda a idade das trevas ou idade média mediante os grandiosos debates teológicos sobre Deus, razão, valores éticos que conduziam homens e mulheres as bem aventuranças. Certos ou errados não sei são só conceitos, mas de tudo se tira proveito.


[1] PAUL TILLICH, 2007, p.188, 189.
[2] Idem, p. 191.
[3] Idem, p.192.
[4] Idem, P. 198 e 199.
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1984ManuscritosPoliticaSociedade

– Todos os sistemas com mais de um ou dois indivíduos – disse o homem de sobretudo – são auto-organizatórios.
– Isso quer dizer que todos os sistemas tendem a proteger o grupo em detrimento do indivíduo. Coloque cinqüenta desconhecidos num lugar confinado e em dois dias você terá facções, líderes, simpatias, lealdades, distribuição de tarefas, alvos, legislações e sistemas de governo: auto-organização. Em alguma medida o mesmo acontece com galinhas, macacos e paramécios. Os organismos se ordenam espontaneamente em superorganismos: rebanhos ou multidões.
– O problema com as multidões é que são forças da natureza. Ninguém pode controlá-las. Com uma pessoa você pode conversar, como estamos fazendo. Uma multidão você só pode aplacar.
– A presente ilusão requer que a democracia representa a vitória final dos direitos do indivíduo e do livre-arbítrio. O que ninguém parece ser capaz de enxergar é que a aplicação da democracia, mesmo na mais inocente das formas, conduz necessariamente à tirania do coletivo. Vivemos na ilusão de que ouvimos e louvamos a liberdade individual, mas somos conduzidos pelos caprichos da multidão.
– E quem foi mesmo que disse que a loucura é a exceção no indivíduo mas a regra na multidão? Nietzsche?
– Fato é que de nada serve a sobriedade individual, porque o tirano coletivo é guiado pelo inconsciente. A democracia é o governo de loucos, está vendo?
– A monarquia e o totalitarismo são arriscados, mas na democracia não resta nem ao menos a possibilidade de um rei sensato.
– Um exemplo da insensatez da multidão: se o capricho coletivo vigente é a segurança, o que acontece é que todos submetem-se voluntariamente à vigilância. Você não vê? A vigilância é tida como inaceitável num governo totalitário, na linha do 1984 de Orwell, mas as pessoas se sujeitam como cordeirinhos (como um rebanho!) a toda e qualquer invasão de privacidade quando se trata de obedecer aos caprichos do ditador coletivo.
– Todas as salas deste edifício são monitoradas por câmeras. Você vê? As pessoas pensam que são livres, mas são instrumentos da burrice coletiva.
– Não interessa quem está monitorando, e é essa a questão. Basta ser monitorado para ser diminuído. Monitorar é invadir. Vigilância é agressão.
– E essa entidade cega vai passando a exigir de nós concessões cada vez maiores, até que tenhamos aberto mão de cada um de nossos direitos. Até que as decisões coletivas sejam precisamente tão arbitrárias quanto as do mais caprichoso ditador.
– Em sua forma mais crua o roubo pode ser uma forma de se obter aquilo de que se precisa, mas para a inteligência coletiva roubar é errado, sem exceção. Porém a mesma multidão se deleita em que as imagens e palavras da televisão ofereçam continuamente às pessoas aquilo de que não precisam. O mundo já conheceu contradição maior? É evidente que essa obsessão aberta com o desnecessário é que sustenta o império de ladrões de ambos os lados da justiça.
– Freud foi capaz de prover um mito abrangente o bastante para controlar o indivíduo, mas com o trágico passamento de Deus deixou de existir um mito capaz de controlar os impulsos da multidão.
– E mesmo a herança de Freud, que associamos a uma valorização definitiva do indivíduo, serviu apenas para satisfazer as mais antigas vontades do superorganismo. Na maior parte do tempo, na história da civilização, os loucos andaram à solta, nas ruas e nas casas, promovendo a idéia subversiva de que a loucura pode ser uma forma de lucidez ou uma estranha alternativa à ela. O que fez a psicoterapia? Por um lado, confinou os loucos em recintos isolados, onde não podem encenar a sua subversão. Por outro, o que acontece àqueles dentro da massa coletiva que sentem-se hoje mais sutilmente desviados da norma? Esses buscam voluntariamente a intervenção de terapeutas, de modo a serem capazes de se conformar. Ou seja: os loucos são mantidos fora de cena e os candidatos a loucos estão sendo constantemente monitorados. Os desvios à norma permanecem onde a multidão, que abomina a dissensão e anseia apenas por conformidade, pode controlá-los e anulá-los por completo.
– Enquanto isso as pessoas distraem-se com a ilusão de que discordam sobre assuntos importantes – coisas como o aborto, a natureza do casamento, a guerra ou a pena de morte – e estão cegas para o fato de que concordam em absolutamente tudo. Vão todos para casa nos mesmos carros e trabalham todos para o mesmo fim; são ao mesmo tempo servos fidelíssimos e completos ignorantes daquele a quem estão servindo.


texto de Paulo Brabo

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